sábado, 24 de setembro de 2011

Se o assunto drogas fosse brincadeira...

Quando a onda da cocaína tomou de assalto várias famílias que perderam seus entes queridos nos distantes anos 90, a sociedade brasileira se mobilizou através das campanhas publicitárias para tentar conscientizar o usuário e em um segundo momento seus familiares. Não havia ainda uma discussão que levantava os pontos principais do consumo e da comparação com outras substâncias alucinógenas e entorpecentes. De qualquer forma, tivemos que lidar com várias prisões de usuários, da guerra do narcotráfico, com a violência urbana e com o consumo nas principais casas noturnas das cidades grandes.

Vale lembrar que a sociedade pode e deve colocar a discussão na roda para que todos tenham o conhecimento da questão e que saibam que ela é mais profunda do que os estereótipos rasos que taxaram indiscriminadamente seus dependentes.

Um desses exemplos é a campanha da figura acima* que caracteriza como careta a pessoa que não se declara dependente de tais substâncias.

A contra psicologia que falha e peca quando limita o não usuário uma imagem que não chega a ser positiva. Explico o porquê: no próprio meio dos usuários há várias questões não resolvidas justificando o motivo de suas escolhas para a entrada no vício. O consumo também serve para mascarar uma atitude "careta". Nota-se que muitos deles têm esses comportamentos quando estão ou não sob o efeito da droga. Várias vezes me deparei com usuários de maconha extremamente racistas, homofóbicos, etc. Não estou limitando esse comportamento aos adeptos da cannabis. Mas quem criou essa, com o perdão da palavra, "merda" de campanha não foi capaz de pensar no usuário e no que realmente motiva uma pessoa a buscar esse vício.

Há também fator "tribal", um pretexto para diferenciação entre as outras tribos e as pessoas ditas "normais" (não usuários) e que também é determinante para o uso de tal substância e não outra. Mas isso a campanha não iria conseguir discutir mesmo.

Fica evidente que qualquer pessoa com intenção de se manifestar em prol de uma causa deve conhecer - e muito bem - todos os lados envolvidos. Ao meu ver, essa manifestação trouxe uma carga muito negativa às discussões acerca do tráfico e do consumo quando separa usuário e não usuário colocando em posições antagônicas.

Outra falha, talvez a mais grave: toda sociedade tem sua parcela de responsabilidade. Sendo assim, é "o todo" e não o individual que a propaganda induz o usuário a pensar "seja igual a mim, espelhe-se no meu modo de vida". Se a pessoa que disser isso justamente representar para seu interlocutor uma personificação da caretice, é óbvio que essa campanha será falha, ainda que o usuário, também seja igualmente careta.

Ainda estou pagando para ver uma campanha realmente eficiente que englobe todos os aspectos do usuário, do traficante, do governo e de todas as esferas sociais envolvidas. Num espaço de trinta segundos ou num banner? Quase impossível, uma vez que a inciativa mais bem sucedida tenha virado dois filmes de duas horas e meia. Lamentável.

Dá-me tanta preguiça quando vejo esse tipo de "conscientização" que lembro com saudades quando eu era viciado em Sessão da Tarde e pipoca...

* todas as pesquisas que eu fiz indicam que tal marca e slogan foram criados pela Igreja Renascer em Cristo. Quem tiver a real fonte, sinta-se livre em postar na sessão de comentários.