segunda-feira, 9 de abril de 2012

Obrigado mais uma vez


O duro exercício de agradecer as pessoas:

Talvez seja onde eu mais apanhei na vida. Ser cordial, reconhecer os bons feitos do ser humano, entender que mesmo com essa visão ácida que eu tenho da vida, há os de bom coração, de boa vontade para com o próximo. Eu tenho muito a agradecer algumas pessoas nessa minha jornada até aqui. Nem todas todas querem esse agradecimento, no entanto. Talvez porque julguem este "obrigado" como inferior aos seus feitos.

Enfim, enquanto existir gente que prefere jogar suas sementes no pântano, existirão flores que nascerão na secura do sertão.

A vida tem dessas contradições. Vou preferir agradecer aos que preferem me dar uma surra para que eu me levante novamente, aos que me erguem pelo simples capricho da vaidade que vai me colocar no chão sujo.

Posso até morrer com esse "obrigado" entalado. Mas é ele que vai dar forças aos que precisam muito mais dele do que da verdade absoluta e utópica.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Sem futuro.

DONNIE DARKO – 2001

Não é mais um terror teen americano. Não se nos prendermos aos clichês que nos levam a categorizar um filme como tal. O diretor Richard Kelly foi impressionante ao ilustrar um jovem conflituoso consigo mesmo e com a sociedade em sua volta em vez de simplesmente contar uma história de terror.

O filme trata do jovem Donnie, interpretado por Jake Gyllenhal e que é perturbado por um coelho gigante que o incentiva a promover assassinatos. Conturbado com as aparições deste coelho e de como a sociedade lidou com o seu problema, Darko tenta buscar explicações indo a uma analista, que com sua mente estreita, só obtém dele mais incitação dos impulsos como resultado da terapia ineficaz. Além disso, o rapaz tem os dons de prever acontecimentos futuros e com mais inquietações a cabeça dele fica cada vez mais confusa. Naquela pacata cidade, só a professora vivida por Drew Barrymore, tinha a compreensão para os alunos da sala de Donnie, também perdidos no tiroteio da moral versus liberdade. As premonições de Donnie refletem o quão terrível seria poder prever o próprio futuro e ampliam certamente a nossa incapacidade perante a ele.

Sem sombra de dúvidas Jake Gyllenhal está estupendo em sua atuação e ela exigiu uma carga dramática para os momentos mais tristes do seu personagem e na grande ironia, tanto despejada sobre os outros habitantes durante uma apresentação de um palestrante banana quanto nos valores estreitos e hipócritas o envolvendo naquela cidade atrasada mentalmente. E uma das professoras foi a tradução dessa falsa moral, que julga a mensagem como causa e efeito direto e responsável pelo o que propaga, sem levar em conta a interação do receptor com ela. Sim, Kelly questionou a teoria funcionalista da Escola de Chicago e a década de 80 não deve ter sido uma escolha aleatória.

Para transportar sua trama estes anos, o diretor caracterizou seus personagens como se fossem daquelas séries sobre famílias americanas felizes, mas com algum problema de convivência. A trilha sonora embala a introspecção da personagem principal e as letras cheias de psicologia do Tears For Fears caem como uma luva para a viagem dele.

Pelo excelente trabalho de Richard Kelly restam dúvidas se ele tentou contar uma história com elementos aparente desconexos sob a ótica do terror ou se o mesmo quis que a juventude dos começo dos anos 2000 repensasse suas problemáticas. Talvez tenha sido nessa ambigüidade que Donnie Darko tenha amargado uma fraca bilheteria nos EUA, ainda que esta não ofusque o brilho e a gigante interpretação de Jake e do roteiro do seu diretor.

A grande ironia da película é de não haver na realidade apenas duas possibilidades enxergadas, tal como as que limitam a ação das outras personagens no tempo e no espaço. E na metáfora de que é tudo uma questão de tempo. Tentar explicar a sua ação imutável, nos reduziria ao simplismo, à mente limítrofe e intolerante com a ciência e com a razão para com a sensibilidade não só de Donnie, mas de sua professora e de todos que se tocaram em algum momento diante de um personagem complexo e tão atual.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Old School Terror?


Insidious – James Wan

Do mesmo produtor de Atividade Paranormal, Orean Peli e James Wan lançam mais um filme de terror dialogando com outros clássicos do gênero em fusão com películas mais recentes.

A história gira em torno de um dos filhos do casal Josh (Patrick Wilson) e Renai (Rose Byrne) que recém-mudados para uma residência, ficam em desespero com o coma do menino e por este não conseguir acordar do sono profundo. Não bastasse a situação, os pais ainda encontram sinais de assombração, motivando-os a deixar o lugar e ir para outra casa. No final das contas o que está amaldiçoado é o menino e não o imóvel, fazendo com que Josh e Renai tentem buscar uma saída para o pesadelo através do transporte do marido ao mundo inconsciente.

Com a narrativa dramática clássica em três atos e uma pitada de humor altamente dispensável de dois nerds que aparecem na trama, “Insidious” perde a chance de figurar como a linha tênue entre o terror que fez escola de “Exorcista” e “Poltergheist” e os trabalhos anteriores do realizador no cinema americano como “Jogos Mortais” e “Atividade Paranormal”. Bem como disse, os nerds são personagens que expoem a película ao ridículo e destoando completamente de todo o resto da história. Bastaria um trabalho melhor de caracterização destes dois personagens que “Insidious” não perderia seu fôlego. Outro ponto em que a película pecou foi no desenvolvimento do enredo em que o diretor poderia ter explorado mais o suspense dos personagens principais até levá-los a decisão de trocar de casa. Aliás, a conclusão de que é o menino e não o lugar o ponto assombrado deveria ficar subentendida no trailer, o que aumentaria o suspense e teria sido um marketing positivo por enriquecer a história, saindo do clichê das casas mal assombradas.

O primeiro ato, no entanto, mostrou a grande habilidade de Wan em deixar o expectador conhecer e muito bem seus personagens com diálogos muito bem estruturados. Os planos de cena bem construídos expuseram de forma visual um ambiente soturno e grande demais para a família favorecendo a movimentação dos personagens no espaço, consequentemente ampliando a tensão.

Entretanto, a composição das trilhas sonoras - muito bem escolhida foi um dos pontos mais altos da película, remetendo ao terror dos mais assustadores filmes clássicos.

O destaque também para a introdução com imagens em preto e branco que exploraram todo o potencial de Wan para continuar no gênero.

Pra finalizar, o roteiro leva a pensar no nosso inconsciente, sendo este justamente a nossa prisão e contrariando a psicanálise do id para onde nossos desejos secretos são levados. Alias a hipnose também está inserida no filme. Mesmo em discordância sobre essa prisão dos desejos expostas pelo realizador e o nosso alcance racional a eles pelo inconsciente, a metáfora de Wan foi interessante em um contexto do cinema de terror americano guiado pelo psicológico e não mais por histórias de bruxas, demônios e fantasmas. Em “Insidious” os demônios estão lá, só que a alcance dos nossos desejos e suas representações pela imagem do filme, pela profundidade abordada pelo diretor, chega a serem quase metafóricas. James Wan precisa somente acompanhar os desejos do expectador, quem sabe neles, encontre outros “demônios” que realmente nos dêem medo de ver quando se apagam as luzes.

sábado, 24 de setembro de 2011

Se o assunto drogas fosse brincadeira...

Quando a onda da cocaína tomou de assalto várias famílias que perderam seus entes queridos nos distantes anos 90, a sociedade brasileira se mobilizou através das campanhas publicitárias para tentar conscientizar o usuário e em um segundo momento seus familiares. Não havia ainda uma discussão que levantava os pontos principais do consumo e da comparação com outras substâncias alucinógenas e entorpecentes. De qualquer forma, tivemos que lidar com várias prisões de usuários, da guerra do narcotráfico, com a violência urbana e com o consumo nas principais casas noturnas das cidades grandes.

Vale lembrar que a sociedade pode e deve colocar a discussão na roda para que todos tenham o conhecimento da questão e que saibam que ela é mais profunda do que os estereótipos rasos que taxaram indiscriminadamente seus dependentes.

Um desses exemplos é a campanha da figura acima* que caracteriza como careta a pessoa que não se declara dependente de tais substâncias.

A contra psicologia que falha e peca quando limita o não usuário uma imagem que não chega a ser positiva. Explico o porquê: no próprio meio dos usuários há várias questões não resolvidas justificando o motivo de suas escolhas para a entrada no vício. O consumo também serve para mascarar uma atitude "careta". Nota-se que muitos deles têm esses comportamentos quando estão ou não sob o efeito da droga. Várias vezes me deparei com usuários de maconha extremamente racistas, homofóbicos, etc. Não estou limitando esse comportamento aos adeptos da cannabis. Mas quem criou essa, com o perdão da palavra, "merda" de campanha não foi capaz de pensar no usuário e no que realmente motiva uma pessoa a buscar esse vício.

Há também fator "tribal", um pretexto para diferenciação entre as outras tribos e as pessoas ditas "normais" (não usuários) e que também é determinante para o uso de tal substância e não outra. Mas isso a campanha não iria conseguir discutir mesmo.

Fica evidente que qualquer pessoa com intenção de se manifestar em prol de uma causa deve conhecer - e muito bem - todos os lados envolvidos. Ao meu ver, essa manifestação trouxe uma carga muito negativa às discussões acerca do tráfico e do consumo quando separa usuário e não usuário colocando em posições antagônicas.

Outra falha, talvez a mais grave: toda sociedade tem sua parcela de responsabilidade. Sendo assim, é "o todo" e não o individual que a propaganda induz o usuário a pensar "seja igual a mim, espelhe-se no meu modo de vida". Se a pessoa que disser isso justamente representar para seu interlocutor uma personificação da caretice, é óbvio que essa campanha será falha, ainda que o usuário, também seja igualmente careta.

Ainda estou pagando para ver uma campanha realmente eficiente que englobe todos os aspectos do usuário, do traficante, do governo e de todas as esferas sociais envolvidas. Num espaço de trinta segundos ou num banner? Quase impossível, uma vez que a inciativa mais bem sucedida tenha virado dois filmes de duas horas e meia. Lamentável.

Dá-me tanta preguiça quando vejo esse tipo de "conscientização" que lembro com saudades quando eu era viciado em Sessão da Tarde e pipoca...

* todas as pesquisas que eu fiz indicam que tal marca e slogan foram criados pela Igreja Renascer em Cristo. Quem tiver a real fonte, sinta-se livre em postar na sessão de comentários.