terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Sem futuro.

DONNIE DARKO – 2001

Não é mais um terror teen americano. Não se nos prendermos aos clichês que nos levam a categorizar um filme como tal. O diretor Richard Kelly foi impressionante ao ilustrar um jovem conflituoso consigo mesmo e com a sociedade em sua volta em vez de simplesmente contar uma história de terror.

O filme trata do jovem Donnie, interpretado por Jake Gyllenhal e que é perturbado por um coelho gigante que o incentiva a promover assassinatos. Conturbado com as aparições deste coelho e de como a sociedade lidou com o seu problema, Darko tenta buscar explicações indo a uma analista, que com sua mente estreita, só obtém dele mais incitação dos impulsos como resultado da terapia ineficaz. Além disso, o rapaz tem os dons de prever acontecimentos futuros e com mais inquietações a cabeça dele fica cada vez mais confusa. Naquela pacata cidade, só a professora vivida por Drew Barrymore, tinha a compreensão para os alunos da sala de Donnie, também perdidos no tiroteio da moral versus liberdade. As premonições de Donnie refletem o quão terrível seria poder prever o próprio futuro e ampliam certamente a nossa incapacidade perante a ele.

Sem sombra de dúvidas Jake Gyllenhal está estupendo em sua atuação e ela exigiu uma carga dramática para os momentos mais tristes do seu personagem e na grande ironia, tanto despejada sobre os outros habitantes durante uma apresentação de um palestrante banana quanto nos valores estreitos e hipócritas o envolvendo naquela cidade atrasada mentalmente. E uma das professoras foi a tradução dessa falsa moral, que julga a mensagem como causa e efeito direto e responsável pelo o que propaga, sem levar em conta a interação do receptor com ela. Sim, Kelly questionou a teoria funcionalista da Escola de Chicago e a década de 80 não deve ter sido uma escolha aleatória.

Para transportar sua trama estes anos, o diretor caracterizou seus personagens como se fossem daquelas séries sobre famílias americanas felizes, mas com algum problema de convivência. A trilha sonora embala a introspecção da personagem principal e as letras cheias de psicologia do Tears For Fears caem como uma luva para a viagem dele.

Pelo excelente trabalho de Richard Kelly restam dúvidas se ele tentou contar uma história com elementos aparente desconexos sob a ótica do terror ou se o mesmo quis que a juventude dos começo dos anos 2000 repensasse suas problemáticas. Talvez tenha sido nessa ambigüidade que Donnie Darko tenha amargado uma fraca bilheteria nos EUA, ainda que esta não ofusque o brilho e a gigante interpretação de Jake e do roteiro do seu diretor.

A grande ironia da película é de não haver na realidade apenas duas possibilidades enxergadas, tal como as que limitam a ação das outras personagens no tempo e no espaço. E na metáfora de que é tudo uma questão de tempo. Tentar explicar a sua ação imutável, nos reduziria ao simplismo, à mente limítrofe e intolerante com a ciência e com a razão para com a sensibilidade não só de Donnie, mas de sua professora e de todos que se tocaram em algum momento diante de um personagem complexo e tão atual.

Nenhum comentário: