sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Brincadeira de criança, como é bom...


Uma nova guerra ganha as telas do cinema neste final de semana. Como foi com o primeiro, a sequência de “Tropa de Elite” causa frisson na grande mídia e leva multidões as salas de cinema. Ontem ao voltar de ônibus para casa ouço vários “da hora” disparados por “manos” que certamente por uma questão que vai além da semiótica nem devem saber o real propósito do autor. A saber, por Martine Joly que escreve sobre Teoria da Imagem, o cinema como arte excerce uma função emotiva tendo seu foco maior no emissor, no caso o diretor José Padilha.
No entanto cabe também ao receptor sua liberdade de julgar e tentar entender por sua livre interpretação, a intenção do seu emissor. Uma imagem também pode ser palavra ou dizer mais que mil delas, logo a representação acima com a imagem do Caveirão – carro de patrulha de policiamento do BOPE – que já fala por si só; pode carregar nele mais que a referência de presos em seu interior e sim muita polêmica. Como toda questão não se resume somente à análise da imagem e também envolve aspectos culturais e sociais, aí fica complexo determinar somente por questões icônicas porque um brinquedo causa tanta discussão.
Talvez seja mais emblemática a representação de quem é de fora do Rio de Janeiro que lá “é tiro para todos os lados” e associar essa idéia às opiniões e ai tentar descobrir de onde vem tanta polêmica. Já discuti nesse blog sobre o impacto da violência ser mais “permissiva” que o sexo. Ela entra fácil em nossas casas, enche os olhos da garotada ávida por jogos eletrônicos e cinema hollywoodiano de ação. Mas isso até essa realidade do tiroteio entrar sem pedir licença e acertar onde não devia.
Por uma avaliação de que forma e conteúdo esclarecem a “real” da imagem, tal brinquedo que é uma imagem de uma imagem de uma imagem, se apresenta na cor preta, com um ícone de uma caveira e num carro de tropa de choque. Tal associação à violência não ocorreria se a idéia que temos de polícia – miliciana diga-se – fosse a da corporação de outrora, seguidora da missão de proteger o cidadão. Ora, quando fui criança ganhei do meu pai, um católico radical, um carrinho de polícia e sempre tinha admiração por quem usava fardas. A imagem então como algo mutável e moldada à sua realidade pode causar o desconforto e a revolta e num deslocamento de espaço a sensação de respeito e admiração.
Não está claro na teoria da imagem e seus fundamentos a resposta que a sociedade precisa. No entanto ela indica um caminho e uma reflexão sobre quem somos, quem está a nosso favor e contra nós. Talvez ao nos olharmos em nossos espelhos, despidos tanto literal quanto metaforicamente encontraremos em nossos corpos a coragem para enfrentarmos o medo e daí surja uma transoformação. A brincadeira de adulto por quebrar as correntes da inversão de valores. E a gíria tipicamente carioca de que “não é brinquedo não” e na concretização desta a grande verdade devendo ser encarada de frente...
E essa discussão deve começar desde a infância.

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