domingo, 21 de agosto de 2011

A nossa Metrópolis não é filme.

Metropolis é a história de uma cidade do futuro dividida em dois planos: o plano superior onde os habitantes gozam de uma vida prazerosa e os subterrâneos que são escravizados pelas máquinas e não se dão conta nenhuma disso. É nesse subterrâneo que vive Maria, uma trabalhadora que seria encontrada por Freder, filho do prefeito Fredersen que viviam no lado de cima.

Fritz Lang, quando no período Entre Guerras resolveu filmar Metropolis talvez não imaginasse que estaria colocando em sua obra vários conceitos da comunicação social e visual que hoje ainda são relevantes para uma explicação do mundo, ainda que a Globalização não fosse o foco das discussões sobre a sociedade ocidental e os meios de comunicação da época.

As máquinas mostradas no filme já nos apresentam um espaço (e tempo) em que já não nos dávamos conta do entorpecimento causado por nossas extensões (Marshall Mc Luhan). Não só entorpecidos como também dominados por elas. A cena em que os trabalhadores são retratados pelo diretor com a expressão facial ausente de qualquer sentimento é a grande metáfora dessa nossa embriaguez e o conceito de alienação do trabalho (Marx e Engels) pode perfeitamente ilustrar essa interpretação.

Fritz Lang também fez suas adaptações (ou transmutações) quando colocou a personagem Maria vivida por Brigite Helm no posto de salvadora dos trabalhadores escravizados pelas máquinas. Inconscientemente ela também foi espetacularizada na história e colocada no ponto mais alto. Há diversos dialogismos com a Geneses bíblica de Adão e Eva e o diretor não se prevaleceu deles para poder justificar sua obra como de vital importância para o cinema.

Outra metáfora de Lang foi colocar no robô do cientista Rotwang feições humanas de Maria numa alusão a uma extensão quase perfeita de seu corpo. Quase, porque o robô começou a propagar a violência como protesto contra a escravidão dos trabalhadores da “baixa Metropolis”. Torna-se então esse robô (uma falsa Maria, alusão ao anticristo) uma máquina cerebral e muscular e quase sensorial – quase por que o bem simbólico para aqueles trabalhadores resumiu-se ao discurso revolucionário. Essa simbiose entre homem e máquina nos traz a pergunta se seremos dominados ou não por essas máquinas da mesma forma que em Metropolis. No entanto pela análise crítica da comunicação social somos surpreendentemente levados a esta resposta quando vivemos em pleno começo do século XXI completamente dominados por essas extensões que criamos e continuamos ainda sem despertar dessa embriaguez.

A película revela ao longo de quase três horas que o mundo passaria por uma transformação e a visão de Lang estaria correta em sua essência. Estamos a pouco tempo do ano em que Metropolis passaria por sua revolução. O futurismo de algumas cenas permaneceu na utopia. Ainda assim, vivemos no mundo real sendo a grande adaptação de Metropolis.

“Entre a mão e a razão, deve se colocar o coração”, é a frase que finaliza o filme nos colocando a reflexão sobre nossas necessidades e do mundo artificial – e talvez subterrâneo – para onde estamos adentrando. Deverá então ser por meio das nossas máquinas, criações, espaços e cultura que deveremos despertar para a necessidade de haver alguma Maria para nos salvar?

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