quarta-feira, 7 de abril de 2010

Alagados

Não é de hoje que a face da cidade grande se mostra revelando aos alienados – por escolha ou não – seu lado mais obscuro e o seu flerte com a desgraça do crescimento desordenado e sem planejamento.

Estamos nesses dois últimos dias presenciando uma tragédia que não é recente na nossa memória e que traz à tona diversas discussões que só levam a reflexão e pouca ação. Onde estaríamos errando para que esse tipo de catástrofe noticiada exaustivamente pela mídia continue a acontecer?

http://f.i.bol.com.br/imagensdodia/fotos/20100406-rio-chuvas_f_071.jpg?time=1270658830178

O meu ponto aqui será no papel da mídia e de que forma ela conduz às autoridades ao julgamento moral, movido pela revolta daqueles que perderam muito mais do que uma televisão ou que tentaram salvar um fogão no pé do morro prestes a desabar.

“Vitimizar” uma parcela da população e culpar outra seria mesmo o ponto para encontrarmos uma explicação para uma conta que não fecha? Não. Encontrar um denominador comum demanda muito mais do que uma cobertura massiva da mídia e a sua disputa por cada notícia que aumente o número de acesso ao site dos veículos de comunicação de massa e pontos a mais no ibope.

É lastimável que mais uma vez a população seja posta no posto de bonzinha e vítima e o governo como culpado. Novamente os veículos de comunicação perdem uma excelente oportunidade de noticiar e expor as causas profundas da tragédia que caiu dos céus fluminenses nesta segunda-feira. Não é de se negar o fato de existir um fator climático e um temporal atípico e somado à uma geografia que explica boa parte da problemática. Mas a população também colabora para aumentar ainda mais a dimensão da tragédia e o governo a colocar a cereja do bolo através da omissão de governantes incompetentes e demagogos.

Toda árvore tem a sua raiz e essa todo mundo pisa nela para fazer xixi mas ninguém olha para o seu todo a menos que caia um galho em sua cabeça. Não acho errado o governo colocar a população como parte do problema e mostrar a todos que ela é parte da solução. Detesto o discurso vazio motivado por um sentimento de revolta rementendo a cheiro de pneus queimados e o do espetáculo de uma mídia que vai induzir o povo novamente a jogar pelo ralo uma boa oportunidade de continuar lembrando daqui há uma semana que isso é um fato.

Fatos se tornam reais quando novamente enxergamos os bueiros entupidos de lixo e pessoas desesperadas perdendo tudo.

Numa cidade em que o sentimento de revolta beira à duvida sobre o futuro, a verdade evapora e a certeza é que a mesma vai (se) precipitar novamente. Seremos avisados?

Haverá espaço nos nossos bueiros para escoar tantas culpas sujas ou para escorrer uma água que nos reflete nosso orgulho e responsabilidade e lançá-la aos rios de janeiro e talvez de abril?

(...)

http://migre.me/uySE



Enquanto isso segue a Ana Maria Braga fazendo a sua "utilidade pública"

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