quinta-feira, 13 de maio de 2010

A doce vida (de poucos)


A capa da revista semanal Veja desta semana mostra como os jovens gays estão assumindo natualmente sua homossexualidade e a aceitação vivenciada por estes.

Estranho, se considerarmos o perfil destes e em que contexto eles se locallizam.

Novamente, sem querer ser um sociólogo defensor dos pobres e chato, é só observar pelas carinhas de jovens que parecem ter saido de séries do boomerang que tal realidade dessa capa não se trata de descrever a vida da maioria deles, e sim dos que vivem em situações bem diferentes e encaram preconceitos realmente ferozes. Quando teorias sobre comunicação e sociais admitem elevar o grau de intelecto das pessoas o quão maior é o seu poder econômico - não é uma generalização mas uma tendência, é claro - e explica-se aí essa maior aceitabilidade destes rapazes e moças no auge de sua revolução hormonal e ávidos por viver experiências afetivas.

O filme "Do começo ao fim" é o melhor dos exemplos: dois irmãos de pais diferentes, notavelmente de classe média alta carioca começam a se envolver afetivamente. Ao longo de suas vidas o único problema enfrentado é uma viagem que surge no caminho dos dois separando-os. Suas expressões de afeto são mostradas sob uma ótica utópica de uma sociedade completamente livre de preconceitos e da homofobia. Passando-me a sensação: "me coloque nesse mundo de ilusão!". O filme é fraco, valendo apenas a atuação da mãezona Julia Lemmertz.

Voltando a discussão, existe também uma questão geracional acerca desse mito da geração tolerante. A minha geração dos anos 90 ainda pegou um momento difícil em que tratamentos contra do HIV não garantiam vida longa, ainda tinha-se resquícios do estigma gay acerca dos homossexuais e pra acabar de vez - pelo menos em São Paulo - passamos pela pior crise na educação. A galerinha de hoje dessas classes mais altas não tem muito contra que lutar. Estamos passando por um momento em que as expressões de aversão à qualquer coisa diferente seja vexatório e alvo de críticas.

A reportagem da Veja também invertou a ordem das coisas colocando como vítima do Bullying na internet, os jovens que manifestam-se contrários as relações homoafetivas. A quem ela se refere? Faltou traçar um perfil melhor desses jovens e perceber que as diferenças sociais no tocante não só às suas classes mas também à diferentes realidades para enxergar que a coisa não é nem está perto de ser um conto de fadas gay. Os jovens de classe média - a quem a revista expoe - seriam menos propensos à manisfestações agressivas de homofobia?

Esqueceram de olhar também para as vítimas dos abusos de violência, assédio moral e discriminação para enxergar o tipo de jovem que ainda tem que conviver com essa dura realidade. Pegar a parte pelo todo é fazer com que a realidade de uma minoria seja um produto para se espelhar?

E a questão dos guetos? Como se não estissem convenções de espaço para manifestação dos afetos... Bem sendo assim, teríamos que fazer um teste de colocar um casal para andar na Paulista e outro para andar no Largo 13 em Santo Amaro (São Paulo, lugar frequentado na sua maioria por pessoas pobres e excluidas de informação). Se até na Paulista há relatos de violência verbal e física, quem dirá onde a ignorância e a repetição de valores contraditórios aliados à falta de educação básica circulam mais livremente que seus propagadores. Novamente tem-se a idéia dos gays em toda a parte. Sim perante o eixo Paulista (no caso de São Paulo) e Ipanema-Leblon (no Rio), sim.

Se o que a Veja, falando de comportamento vende essa doce vida poderia perfeitamente através do Diogo Mainardi vender também a doçura que é o momento atual do nosso País.

Fico com o ditado que diz "Rapadura é doce mas também não é mole não"

Sem nenhuma referência fálica, termino.

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