domingo, 16 de maio de 2010

O mais eloquente dos signos

Eis que tudo muda da água para o vinho. Aquilo que é dado como certo vira algo que é posto em cheque. As certezas - que nunca tivemos, diga-se - são diluídas na perda de uma esperança que se vai pela simples ausência.

O ser humano recebeu como dádiva o dom máximo da comunicação, o diferenciando dos animais e com isso pode construir as histórias mais belas que vão do romance à experiência de viver seus dramas e poder compartilhar com outros seres pensantes.

Ainda que todas as certezas inexistem pois como dizia Nietzsche que todas certezas deviam ser questionadas e desconfiar-se de quem dizia as possuir em abundância e no entanto não há como na vida existir o relativo pois na subjetividade de cada um passa a ser uma certeza que é intíma, porém diferente das dos outros, logo, ou é "sim", "não" e "talvez". Não tem meio termo. Ouvi-los, significa que uma mensagem foi enviada, recebida e decodificada. O ciclo da comunicação se completa. Pelo menos a certeza de como cada um reage a isso pode conviver com o livre arbítrio e faz-se sua escolha.

O que dizer daquilo que não é dito, que não é expresso, e presente nas entrelinhas do que ficou no ar? Hoje, tive a constatação máxima de que eu não sei como interpretar o silêncio. Hiato pode ser uma forma de comunicação. No obstante, chego à conclusão de que isso pode dizer tantas coisas e justamente nesse infinito de possibilidades pode ocultar inclusive uma forma cruel de quem o emana - ou abstem-se de dizer algo, a saber - de deixar a outra parte numa expectativa e que pode ser um tremendo ponto de partida para as manifestações de neuorose e até mesmo psicose. Quem deixa de emitir a comunicação pode estar também a espera de um comportamento infantil e irracional.

Mas quem espera isso da outra parte envolvida na comunicação também não parte do mesmo princípio e portanto, igualmente imaturo?

Apesar de servir de teste para quem aguardava um feedback ou uma resposta, ou alimentar os sintomas descritos acima, também pode ter o seu lado "bom". Pode dar ao outro o direito de interpretar como quiser. E para mim, na grande maioria das vezes, como já assumi não saber decodificar hiatos, é capaz de representar o que eu bem achar conveniente. Na minha impulsividade assumida que quase sempre declina para comportamentos agressivos - e sou humano para assumir isso - passo tomar rumos estes: dou como perdida a importância do meu interlocutor ou mando um comunicado agressivo e quase sempre finalizador, junto com este toda a minha dose do meu veneno sarcástico e irônico. Afinal estou no meu direito de na minha ausência de sabedoria para lidar com isso, responder como acho melhor, pelo menos para mim.

Apesar de aparentemente imaturo nas minhas escolhas, no que diz respeito ao silêncio; há o oposto que é uma maturidade a entender quando segue o "não", sendo este conclusivo e o uma aparente fechada de porta é capaz de abrir tantas outras e até mesmo uma para o emissário dessa negativa à minha pessoa. Sou muito aberto às criticas, lido muito bem com elas e sou capaz de entender que alguém, no duro da escolha de dizer "não" foi corajoso e honesto. Isso me inspira todo o meu respeito, minha admiração e portanto, merece a partir desse momento ter o direito a minha honestidade e minha consideração.

Se todos nós, no ápice de nossa indecisão ou na perda de interesse ou esperança no outro, soubéssemos como um "não" é confortante, poupássemos bem mais do que" um resto de refrigerante que sobra no copo" (leia-se neurose obsessiva), sobraria histórias de uma convivência mais harmoniosa e nos libertando de todas as outras dúvidas e ainda que não nos dando nenhuma outra certeza mas só a de que o fim pode significar um grande recomeço.

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