sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Deviance


O texto de André Lemos, sociólogo e professor da Universidade Federal da Bahia, traz uma atual reflexão sobre a comunicação na era digital, traça um perfil de todos conectados aos computadores e expõe as origens de todo esse mundo cibernético, sendo estas anteriores até mesmo ao “boom” da informática. O exemplo do filme Blade Runner, de Ridley Scott cai como uma luva na análise do autor.

A atual geração clama por liberdade de expressão sem controle e sem limites e por um espaço livre para criação e propagação das idéias. O Hacking, dentro da cibercultura tenta quebrar sua imagem negativa ao defender a posição de que não são criminosos os que o praticam, apenas estes desejando levar adiante a idéia de que qualquer informação pode ser acessada e que hão há mais fronteiras na era digital. Essa geração não é nostáligica nem mesmo futurista, apenas parodia o presente. Também vive de forma hedonista e até mesmo naturalista.

Lemos vai mais fundo nas questões sobre esse universo ao expor três conceitos que norteiam a cultura da era digital: o de desvio, apropriação e despesa improdutiva.

O primeiro prega o um deslocamento na lógica e no consumo das informações e também que o combate a spams trata-se de um ativismo, importante para esse tipo de pensamento; não se tratando de uma patologia mas também não é a normalidade.

Todos os grupos sociais precisam criar suas próprias regras a fim de poder se encaixar na deviance (desvio). É importante lembrar que esse pensamento compartilha do anarquismo em essência e que na década de 70 serviu de suporte para o crescimento da atitude punk na Inglaterra, se propagando pela disseminação do “faça você mesmo” por todo mundo.

O excesso de informações (despesa improdutiva) é benéfico para a sociedade, segundo o texto, pois contesta o produtivismo capitalista que só visa o lucro sem desperdícios. É no excesso que garantimos a vida e vai nos salvar da racionalidade excessiva. Abro um parênteses nesse ponto ao observar pelo meu olhar crítico demais que intelectuai(lóide)s combatentes fervorosos do exagero, que o fato de que sua inteligência também se fez pelo excesso de informações, sendo a maiorias destas de forma passiva, diferente da nossa geração atual ativamente participante da construção e manipulação das mensagens.

E por fim a apropriação das idéias, dos signos e das informações por meio das colagens, remixes, edições e pirataria. Concordando com a máxima de que nada se cria, tudo se copia ou se recicla, os signos da informação vão de um lugar ao outro, de uma comunidade virtual aos blogs transportados por quem (em tese) indevidamente se apropriou destes, transformando uma informação importante e essencial para sociedade em chacota e vice-versa. Talvez esta seja a maior paródia do presente.

André Lemos foi certeiro em suas colocações e talvez inconsciente disso, tenha se apropriado de forma mais do que devida das idéias de grandes pensadores para construir uma grande teia – esta metafísica como o próprio pensamento humano – e conectar nela todos os elementos componentes do mundo virtual e estes são meros refletores do nosso contato real.

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